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Libra, a nova criptomoeda do Facebook

Talvez você ainda não tenha ouvido falar, mas o Facebook divulgou recentemente a sua nova criptomoeda. Apesar da baixa cobertura midiática nacional, o fato traz grandes discussões para todo o mundo digital! Fique ligado e conheça mais sobre essa temática bastante complexa.

Libra, a nova criptomoeda do Facebook

Se você navega em páginas financeiras na internet ou convive com pessoas que gostem de economia e finanças, deve ter ouvido em meados do mês passado algo como: “o Facebook lançou um Bitcoin que fez o Bitcoin ter recorde de valorização!”. Inicialmente, você deve ter pensado na visível falta de nexo entre o lançamento de um produto e a valorização de um mesmo produto, que já estava em circulação no mercado. Mas isso não é algo novo, tratando-se de mais um processo de reificação, quando um termo (geralmente de complexidade elevada) torna-se sinônimo para qualquer termo que tenha certo grau de similaridade com o outro. Em miúdos, estamos falando do mesmo caso das start-ups atualmente.

Acontece que, conforme ressaltamos, o lançamento de uma nova moeda digital pelo Facebook e seus parceiros é algo bem complexo. Aliás, complexidade é a marca registrada das transações financeiras via internet, assim como a própria rede mundial de computadores. Como nos acostumamos ao fato de utilizar os softwares e algoritmos em sua forma user-friendly, temos a tendência de esquecer o quão intrincada é a operação por detrás dos processadores, armazenamentos em nuvem e até mesmo da conexão em fibra óptica que nos disponibiliza o acesso à rede de computadores. Mas, vamos começar do início:

O que é uma criptomoeda?

Apesar da falta de consenso sobre o termo, de uma forma simples, uma criptomoeda pode ser compreendida como um meio de transação que utiliza de criptografia para a realização de transferência de valores. A criptografia de ponta a ponta torna ela extremamente segura e irreversível. Você sabe como isso funciona, quer ver? Basta iniciar uma nova conversa no Whatsapp e ler a mensagem automática disponibilizada pelo próprio aplicativo. A segurança da criptografia já fez com que nós, brasileiros, passássemos quase dois dias sem o próprio Whatsapp (você se lembra?). Já no caso da irreversibilidade, temos acompanhado nos jornais que mesmo o ato de apagar as conversas não exclui o registro das mensagens para sempre.

As transações que envolvem criptomoedas são registradas utilizando-se uma tecnologia chamada blockchain, e esse vem a ser o segundo conceito extremamente complexo que permeia o mundo das criptomoedas. Um sistema baseado em blockchain atua como um livro contábil digital, mantendo um registro atual de todas as transações que ocorram na rede de transações associadas a uma determinada criptomoeda. Como o sistema é altamente descentralizado e operado pelo computador de qualquer pessoa, é quase impossível que um hacker tome o controle do sistema como um todo. Ao tentar tomar o controle de um elo da cadeia, todos aqueles dados também estarão em infinitos outros sistemas (computadores). Além disso, inexiste a figura de um controlador central — banco ou governo — deixando-a no controle da própria rede e dos indivíduos participantes.

A Libra

Mas vamos ao que nos interessa, a Libra. Conforme nos mostra o próprio pronunciamento dos atores envolvidos no projeto, “a missão da Libra é oferecer uma moeda global simples e uma infraestrutura financeira que dá poder a bilhões de pessoas”. E, levando-se em consideração os players envolvidos no projeto, não podemos dizer que esse objetivo é pretensioso. Estão juntos a Mastercard, PayPal, Mercado Pago, eBay, Spotify, Uber, Lyft, Vodafone, Visa e, dentre outros, o próprio Facebook. Agora chamados de Libra Association

E aqui levantamos um ponto importante. A Libra não é uma criptomoeda em sua totalidade. Diferentemente do Bitcoin, por exemplo, a Libra não está disponível para qualquer indivíduo que deseje colaborar na rede de transações através do recolhimento e escrita dos dados dos indivíduos que utilizam a moeda. O próprio sistema de transação e registro — blockchain — da Libra é de autoria da associação, e configurado em uma linguagem de programação elaborada por eles mesmos. Ou seja, as transações são controladas por um agente central, e as informações podem ser registradas. Isso tende a diminuir o custo e tempo do processo, uma vez que a operação em blockchain aberto e descentralizado é bastante custosa, mas acaba por descaracterizar o conceito.

Entretanto, a Libra prezará pela menor volatilidade perante o Bitcoin, por exemplo, sendo reconhecida como uma Stablecoin — ou “moeda estável”. A Libra será atrelada a ativos de baixo risco, como títulos do governo em uma cesta de divisas variada. Traduzindo de forma simples, títulos de diversos locais do mundo em diversas moedas, seja ela dólar, euro, real, yen, dólar australiano ou qualquer outra. Ou seja, para obter uma Libra, você deverá efetuar um pagamento, que será lastreado por títulos e posteriormente terão os juros utilizados pela Libra Association para comprá-las de você, caso queira. O fato de converter moedas nacionais em Libras estaria na pretensa facilidade de troca, onde seria possível transacionar com qualquer organização do mundo, em qualquer lugar. Mas, até aqueles países periféricos — grande público-alvo da Libra Association — duvidam dessa capacidade.

Some a isso que acaba de ler, o fato de que a reserva inicial da Libra para a geração das moedas virá através de dinheiro depositado pelos parceiros mencionados anteriormente. Mas, espere um minuto. Isso se parece com um banco comum, não? Bem, nem tanto. Nesse novo modelo de agência, você não recebe juros pelo dinheiro não gasto. A receita com juros advinda do dinheiro utilizado para a compra de Libras e da manutenção das mesmas, será destinado à própria organização, para o pagamento de dividendos aos investidores iniciais — os próprios parceiros (!) — despesas operacionais e novos investimentos. Isso se parece mais assustador quando lemos, mas já é a forma de operação de gigantes do mercado, como o PayPal, por exemplo. Uma vez que o dinheiro está à disposição da empresa, este será utilizado para a geração de mais dinheiro. Bem, com o pequeno detalhe de que essa empresa é capitaneada pelo próprio Facebook, que não é reconhecido pela sua ética em manter sigilo das informações de seus usuários. Mas, então…

Por que a polêmica sobre a moeda?

De certa forma, porque criptomoedas ainda são, em larga escala, utilizadas como forma de aposta e não investimento. Além disso, suscita os já tradicionais debates sobre a perda de informações e descentralização de transações bancárias, que já fomentam organizações criminosas, como cartéis e organizações terroristas. Dentre as discussões, talvez a mais relevante recaia sobre o conflito de interesses das empresas que compõem a Libra Association. Dado que qualquer organização pode fazer parte desse grupo — adequando-se a alguns critérios, como valor de mercado superior à U$S 1 bi -, poderão se unir à grandes players do mercado comercial como Mastercard e Visa, bancos e até mesmo organizações comerciais. O grupo poderá emitir a moeda com que você irá comprar os seus próprios produtos, tendo em mãos todas as suas operações financeiras. Deveras, um pouco assustador.

Estaríamos nós, confortáveis em termos uma nova moeda global mantida por atores privados? De toda forma, talvez a grande consequência na discussão sobre a Libra seja a mesma que ocorreu após o lançamento de uma criptomoeda pelo governo venezuelano em 2018. Quando o governo introduziu no país a criptomoeda pautada no petróleo nacional, indiretamente acabou por levar inúmeros venezuelanos a se educarem no assunto das criptomoedas. Os venezuelanos bateram recorde de transações em Bitcoin pouco tempo depois.

De toda forma, é necessário que passemos a nos acostumar com a ideia de discutir sempre (e em maior quantidade) a importância dos mecanismos digitais em nossas atividades mais corriqueiras em troca de nossas informações mais sigilosas.

21 de Janeiro de 2020

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